SIM! AINDA EXISTE PRECONCEITO
- Carol Romanholi
- 14 de jun. de 2021
- 24 min de leitura
Em pleno século XXI, as mulheres brasileiras ainda sofrem preconceito dentro dos esportes, principalmente no futebol, esporte tido como masculino.

O preconceito enfrentado pelas mulheres vem desde a época em que os homens as tinham como propriedade privada. Nessa época, as mulheres eram submissas aos seus maridos, realidade não muito diferente dos dias atuais. Ainda hoje vemos famílias propagarem o discurso que “menina veste rosa e brinca de boneca e meninos vestem azul e jogam bola”.
A história da mulher dentro dos esportes nunca foi fácil, elas tiveram que lutar para conseguir respeito, tiveram que mostrar que são capazes e que lugar de mulher é onde ela quiser, seja jogando, correndo, nadando, apitando uma partida de futebol, dirigindo um clube ou numa comissão de arbitragem, comentando, narrando ou dando grito de gol.
Dentro ou fora das quatro linhas, elas buscam seu espaço no esporte, desde tempos passados. Mas o que vemos hoje em dia é que isso não mudou muito, em pleno século XXI , as mulheres ainda lutam por um espaço e quando alcançam o tão sonhado lugar, ainda escutam comentários machistas, grosseiros e sem sentido.
As mulheres lutaram e conquistaram espaço dentro do esporte em si, seja como atleta, dirigente, repórter, comentarista, árbitra. Embora a presença delas nos esportes seja maior na contemporaneidade, ainda é perceptível que a discriminação e o machismo prevalece nesse meio.
A HISTÓRIA DA MULHER NO ESPORTE
Durante o período da Grécia Antiga (393 a.C. a 393 d.C.) foram iniciadas as Panatéias (primeiros jogos olímpicos), onde ocorriam jogos e lutas, nesse evento a presença da mulher era completamente proibida até como espectadoras. A exclusão da mulher estava relacionada a visão do Estado com relação ao papel do cidadão, a exclusão da mulher como cidadã grega limitava sua participação nos esportes, as leis com relação a participação de mulheres no esporte eram tão rígidas nessa época que puniam com morte mulheres casadas que assistissem os jogos.
Na Idade Média as mulheres participavam das mesmas atividades esportivas que os homens, envolvendo-se em esportes populares, como os esportes com bola. No século XVII a mulher foi privada de qualquer prática esportiva, sendo subjugada por seu marido ou familiar homem mais próximo. A proibição da prática esportiva pelas mulheres se intensificou na era vitoriana, chegando ao século XIX, onde voltaram a ser realizados os jogos olímpicos.
A primeira olimpíada na qual uma mulher participou de fato foi a de 1900, sediada em Paris. Naquela edição participaram 22 mulheres, porém as únicas modalidades permitidas eram o golf, tennis, vela e críquete.
Hélène de Pourtalès foi a primeira mulher a completar um evento olímpico e levar a medalha de ouro participando de um evento misto de vela com seu marido. Nos anos seguintes foram adicionadas as modalidades de arco e flecha, natação, mergulho, ginástica e algumas modalidades do atletismo

Foto: Reprodução
Hélène de Pourtalès, primeira mulher a completar um evento olímpico e levar a medalha de ouro.
No Brasil tivemos a participação de Maria Lenk na natação. Nascida em 1915, descendente de alemães, ela foi incentivada a iniciar a prática da natação para tratar problemas respiratórios, seus treinos eram realizados nas águas do Rio Tietê, até então limpas. Sua estreia como profissional do esporte foi nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1932. Com 17 anos, nadou os 100m livres, 100m costas e 200m peito.
Em 1936, além de Maria Lenk, competiram Sieglind Lenk, irmã de Maria, Piedade Coutinho, Helena de Moraes Salles e Scylla Venâncio, e ainda Hilda Puttkammer, na esgrima. Essas atletas competiram em provas individuais.

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Maria Lenk, primeira mulher a representar o Brasil em uma olimpíada.
O esporte é um fenômeno social que vem crescendo muito ao longo dos anos. Porém, no caso das mulheres, é um espaço para buscar a igualdade e o respeito. A mulher, hoje, ainda busca quebrar paradigmas e restrições, e cada vez mais ganha espaço numa sociedade dominada por homens.
A HISTÓRIA DO FUTEBOL
Ah, o futebol... O futebol é o esporte coletivo mais popular do planeta. Segundo dados da Federação Internacional de Futebol (FIFA), cerca de 270 milhões de pessoas atuam em atividades diretamente relacionadas ao esporte e suas origens remontam há 5 mil anos na China. O esporte, como vemos hoje, surgiu apenas no século XIX, mas existem evidências de esportes semelhantes ao futebol sendo praticados por japoneses, egípcios, além de gregos e romanos em períodos ainda mais antigos.
O futebol foi introduzido no Brasil por Charles Miller. O estudante paulista retornou da Inglaterra em 1894 e trouxe com ele bolas, uniformes e um livro com as regras estabelecidas. Por conta disso, Charles Miller é atualmente considerado o pai do futebol no Brasil.

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Charles William Miller, considerado o "pai" do futebol no Brasil
Após sua chegada ao país, o futebol rapidamente se popularizou. Tudo começou pelos mais ricos, porém, com o seu rápido crescimento, o esporte acabou por se popularizar entre todas as classes.
Após mais de um século desde a chegada do futebol no Brasil, o país virou uma das grandes potências no esporte.
A HISTÓRIA DA MULHER NO FUTEBOL
Em 1863 foi criada, na Inglaterra, a Football Association, a primeira federação nacional de futebol do mundo. Nettie J. Honeyball, nascida em Londres, em 1870, foi a primeira mulher que publicou um anúncio em um jornal no qual convidava mulheres a formar uma equipe de futebol no ano de 1894. Mesmo tratando de um anúncio, 30 mulheres responderam.
Então surgiu a primeira equipe de futebol feminino da história: o British Ladies Football Club. Elas começaram a treinar duas vezes por semana com o técnico John William Julian, ex-jogador do Tottenham Hotspur, em um parque da cidade. Em uma entrevista no começo de 1895, ela explicou o porquê da criação do clube: “Fundei o clube no final do ano passado com o objetivo de provar ao mundo que as mulheres não são essas criaturas ornamentais e inúteis que os homens pintam”. E, como uma verdadeira visionária, expressou: “Desejo a chegada de um tempo em que as mulheres possam sentar-se ao parlamento e tenham voz na gestão de todos os assuntos”.

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No Brasil:
Segundo o livro "Futebol, Carnaval e Capoeira - Entre as gingas do corpo brasileiro", de Heloísa Bruhns, enquanto os homens da elite brasileira começaram a praticá-lo no final do século XIX, no Rio de Janeiro e em São Paulo, o grupo feminino que aderiu à prática do futebol era pertencente às classes menos favorecidas. As mulheres que jogavam futebol eram consideradas "grosseiras, sem classe e malcheirosas". Porém para as mulheres da elite cabia o papel de torcedoras. "As partidas de futebol masculino eram um evento da alta sociedade e as mulheres se arrumavam para ir assistir aos jogos", relata o livro.
ENTENDA O DECRETO LEI 3.199, art 54

Créditos: Museu do Futebol
Esse foi um decreto criado por Getúlio Vargas em 14 de abril de 1941, o qual proibia as mulheres de praticar esportes que não fossem “adequados a sua natureza”, em outras palavras, as mulheres não podiam praticar esportes pois foram criadas para “procriar”, para cuidar da casa, do marido e dos filhos.
Vinte e quatro anos após Getúlio baixar esse decreto, o Conselho Nacional de Desportos (CND), citou nominalmente, quais esportes eram proibidos para as mulheres, eram eles: lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, pólo-aquático, rugby, halterofilismo e beisebol. Esses esportes eram considerados extremamente violentos e perigosos para as mulheres.
Esse decreto, vigorou por 38 anos e as mulheres acabavam praticando escondidas esses esportes proibidos. Muitas delas chegaram a ser presas, por estarem fazendo aquilo que gostavam, Asaléa Campos foi uma dessas mulheres que chegaram a ser presas por estar jogando futebol na rua com suas amigas, posteriormente contaremos a história de Asaléa Campo.
Em 1979 veio o fim do decreto, mas a normatização do futebol feminino só veio anos depois, em 1983. Foi a partir daí que as mulheres puderam competir, criar calendários para campeonatos, ensinar o futebol nas escolas e utilizar os estádios como atletas.
Abaixo uma foto de jornal da época do Decreto:

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PIONEIRA NA ARBITRAGEM DE FUTEBOL MUNDIAL
A primeira mulher a apitar um jogo de futebol no mundo foi Asaléa Campos, mais conhecida no mundo do futebol com Léa Campos. Ela precisou encarar a Ditadura Militar, uma série de detenções no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), atualmente conhecida como Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e o preconceito da sua própria família e da sociedade como um todo.

Foto: Reprodução
Antes de ser árbitra de futebol, Léa participou de vários concursos de beleza e em um deles se tornou a Rainha do Cruzeiro Esporte Clube, foi aí que ela passou a se envolver com o esporte. Em 1966, tornou-se relações públicas do clube,mas Léa queria ir muito mais além.
“Naquela época, não sabia o que acontecia dentro do campo de jogo, não entendia muito bem. Xingava o juiz, por exemplo, porque os outros também estavam xingando. Perguntava muito para o meu namorado. Passei, então, a querer entender de futebol, algo pelo qual me apaixonei”, conta Asaléa em entrevista ao GE.
“Fui presa várias vezes por causa do futebol feminino. Levavam-me para o DOPS, diziam que eu estava fazendo terrorismo, subversão. E tinha de me explicar dizendo que o que fazia era apenas uma forma de distração. Nunca obriguei ninguém a nada, vai quem quer, só o que queríamos era jogar futebol", continua o relato.
Foi aí que veio a vontade de Léa virar árbitra de futebol, mal sabia que a partir daí, viriam mais preconceitos e problemas para a sua vida. Em 1967, fez o curso de arbitragem pela Escola de Árbitros do Departamento de Futebol Amador, curso esse que teve duração de oito meses. Mas na hora de receber seu tão sonhado diploma, e a legitimação na profissão, veio a primeira surpresa: a CBD bloqueou o seu diploma. João Havelange - presidente da CBD na época - e a própria CBD, chegaram a usar vários argumentos para esse tal bloqueio, todos eles considerados de cunho machista. Inicialmente falaram que a estrutura óssea da mulher não condizia com o esporte, Léa provou com exames médicos que isso não era verdade. Depois questionaram sobre o seu período menstrual, sobre como ela se comportaria diante de 22 homens em um campo de futebol, mas a árbitra sempre tinha uma saída para todos os empecilhos criados por eles. Vendo que não tinham saída, usaram o decreto-lei 3199, art 54 de 1941 para justificar e mais uma vez Léa provou que eles não poderiam barra-la, pois no texto do decreto não dizia que mulheres não podiam ser árbitras de futebol e isso Asaléa provou na presença de um jurista. Não satisfeito, João Havelange em um de seus discursos falou que enquanto ele fosse presidente da CBD, mulher não estaria metida no futebol.
Mas Léa não se entregou e foi atrás de seus direitos, chegando a ter uma reunião com o Presidente Medice, para pedi-lo que intercedesse por você junto com a CBD. O que aconteceu. Médice enviou uma carta escrita de próprio punho para João Havelange, que mesmo sem concordar teve de aceitar e liberar o diploma de Léa.
ÁRBITRAS BRASILEIRAS ESTÃO EM MENOR NÚMERO NO QUADRO DA CBF, QUANDO COMPARADAS COM OS HOMENS
A história mostra que as mulheres já atuavam no futebol antes de serem proibidas, já havia um desenvolvimento da modalidade que foi completamente interrompido durante muitas décadas por conta do preconceito e do machismo. Preconceito esse muitas vezes vindo de dentro da sua própria casa. Este repórter que vos escreve, eu Carolina Romanholi, pede licença para contar sua história. Eu também sou ex-árbitra assistente aspirante à FIFA , e assim como muitas também sofri preconceito familiar quando revelei meu sonho profissional.
Quando decidi fazer o curso de arbitragem de futebol, percebi uma certa estranheza dentro da minha casa, meu pai dizia que aquilo era profissão para homens e que não sabia o que eu ia fazer metida em um campo de futebol. Meus tios e tias também falavam muitas coisas preconceituosas tipo: “essa menina vai virar sapatão”... Enfim, a única pessoa que me apoiou desde o início foi minha mãe. Por incrível que pareça, o apoio veio da parte feminina da casa.
Lembro dos preconceitos que sofri durante a minha carreira, fui vítima em muitas ocasiões, mas lembro de uma bem específica.
Eu tinha ido para um jogo no interior do estado do Pará, se não me engano, em partida válida pela série D do brasileirão, e ao chegar no estádio, o porteiro não deixou a van onde estávamos entrar no estádio, pois eu estava dentro da van. Ele perguntou o que eu iria fazer ali e disse que não deixaria eu entrar sem o crachá (risos), até explicarmos que eu fazia parte da equipe de arbitragem e convencer aquele senhorzinho, que eu era uma das árbitras designada pela CBF para aquele jogo, levou um certo tempo.
De lá para cá, o papel da mulher no futebol avançou muito, mas ainda existe muita deficiência no próprio desenvolvimento e podemos perceber isso quando comparamos a quantidade de árbitras que compõem o quadro de arbitragem da CBF, com a quantidade de árbitros que compõem a mesma entidade.

Outro fato que chama atenção e que poucas pessoas sabem que existe, é o “VETO”. Isso é uma espécie de bloqueio. Vou explicar melhor, quando se faz a escala de um árbitro por exemplo, em alguns estados, essa escala ainda é por meio de sorteio, onde são designadas duas colunas A e B, cada coluna com uma equipe de arbitragem, a coluna que ganhar o sorteio, serão os árbitros que vão conduzir certa partida. Mas antes de acontecer esse tal sorteio, alguns dirigentes de clubes acabam assistindo esses sorteios, e quando observam que tem uma mulher na equipe de arbitragem, esses dirigentes tratam de “vetar” aquela árbitra como conta a presidente da Comissão de Arbitragem (CA) do Amapá Marilene Matta.
“A participação das mulheres na competição masculina profissional, aqui em nosso estado, posso citar que ainda está em procedimento de aceitação, em virtude do machismo que ainda é muito presente, inclusive no momento das escalas, o nosso regulamento ainda permite que seja feito sorteio, onde os presidentes (de clubes) estão presentes e tem o direito a veto. Sendo assim, as nossas árbitras indicadas pela comissão, acabam ficando de fora das escalas, mas enquanto eu estiver (presidente do pra CA) vou continuar tentando para que elas tenham mais espaço, não só no profissional, assim como nas demais competições”.
Marilene Matta foi a primeira mulher a comandar uma CA no Brasil. Hoje em dia, são apenas duas mulheres que assumem esse cargo, a outra mulher é a ex-assistente FIFA é Ana Paula de Oliveira, que comanda a CA de São Paulo.
Mas não foi fácil para Marilene assumir a CA do Amapá, pois por ser mulher e assumir uma posição genuinamente masculina, pois no brasil inteiro só existem duas mulheres nesse cargo, ela sofre alguns preconceitos, inclusive preconceitos vindo dos próprios colegas, os árbitros demoraram a aceitar uma mulher como presidente.
“Quando assumi, houve demora na aceitação por parte deles (árbitros), principalmente por alguns acharem que uma mulher não daria conta, puro preconceito mesmo! Eu percebia nos olhares, no comportamento… Demorou um pouco para eles aceitarem, mas não foi tão difícil, pois comecei a mostrar para eles, que assim como fiz parte do meio da arbitragem, estaria em uma outra função, mas com uma imensa responsabilidade, ainda maior de trazer melhorias e benefícios a eles”, relata.
O preconceito com a primeira presidente de CA do Brasil não parou por aí, em um encontro de presidentes de CA’s, que aconteceu no Paraná, logo quando ela assumiu seu cargo ela também percebeu algumas formas de preconceitos.
“Logo no início, foi no encontro de onde todas as comissões estavam presentes e nesse encontro, as pessoas achavam que eu estava simplesmente representando a federação, pelo fato de não ter mulher nesse cenário”, conta Marilene.
Nesse momento, Marilene era a única mulher presente no evento e quando perguntaram se ela era representante da Federação Amapaense ela respondeu: “Não, eu sou a presidente atual da comissão, aí me olharam e disseram, que interessante uma mulher , uma mulher comandando homens? Eu disse, sim! Uma mulher comandando homens e conhecedora da regra, fazendo o que os senhores fazem”. Após sua resposta, Marilene passou a ser apoiada pelos homens que ali estavam e até hoje a apoiam. Mas antes de vir esse apoio, veio a estranheza, vieram os olhares tortos e a incerteza se realmente uma mulher conseguiria assumir aquele cargo tão exigido e de tanta responsabilidade.
E não é só presidente de CA que sofre preconceito não. As árbitras brasileiras também sofrem muita descriminação . Preconceitos estes vindo de todos os lados possíveis: da imprensa, arquibancada, parentes, homens. Mas o fato que mais nos chamou atenção foi o caso do ex-radialista da Jovem Pan Fortaleza. Daniel Campelo, em 2019, fez um comentário extremamente grosseiro contra as árbitras, quando seu colega de bancada falou: “Eu estou percebendo, meu caro Daniel Campelo, que as mulheres estão começando a tomar conta da arbitragem do futebol brasileiro, o que você acha?”
Escutem o que ele respondeu:
Ao tomarem conhecimento desse comentário, várias árbitras postaram o áudio em seus perfis no Instagram, a ação gerou um movimento muito forte nas redes sociais durante todo o dia 14 de outubro de 2019. O acontecimento chegou ao conhecimento da emissora que rádio que soltou uma nota em seu Instagram oficial, como podem ver abaixo.

Foto Reprodução Instagram @jovempannews
Não satisfeito com o comentário machista no dia do jogo que a árbitra assistente participou, o radialista Daniel Campelo teve a chance de se retratar no dia 14 de outubro de 2019 , em um programa da mesma emissora, mas o que aconteceu é algo pior do que havia acontecido no dia do jogo.
Vejam abaixo:
Isso gerou mais indignação não só nas árbitras, mas nas mulheres que viram e ouviram esses comentários e isso custou o emprego de Daniel Campelo. Pois no dia 15 de outubro de 2019 as 9:30 da manhã, sai a notícia no Twitter que o mesmo havia sido demitido da emissora.

O índice de árbitras que sofrem preconceito, seja ele qual for, é muito alto. Em uma pesquisa feita em 2020 para um trabalho acadêmico do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza, , realizada via Google Formulários, na qual participaram 55 árbitras da CBF, 96,4% delas disseram já ter sofrido qualquer tipo de preconceito na profissão apenas por ser mulher. Esse índice comprova os embates que as mulheres sofrem ao exercerem a profissão de árbitra.

A DIFÍCIL TAREFA DE SER PRESIDENTE DE CLUBE DE FUTEBOL MASCULINO PROFISSIONAL
Atualmente, Maria José Vieira é a única mulher a presidir um clube de futebol cearense. Dos 10 os clubes do estado, apenas o Futebol Clube Atlético Cearense é comandado por uma mulher. Maria foi nomeada ao cargo em 1º de setembro de 2017. Formada em pedagogia e agropecuária, seu primeiro contato profissional com o futebol foi na Arigooll, onde gerenciava as categorias de base do Horizonte. O F.C. Atlético Cearense, anteriormente conhecido como Uniclinic Atlético Clube, é um clube de futebol da cidade de Fortaleza. Suas cores são o vermelho, preto e branco, homenagem do proprietário do clube, o atacante cearense Ari ao Clube de Regatas do Flamengo, seu clube do coração.
Existem registros de outras mulheres que foram presidentes de clubes profissionais de futebol Brasil afora, um exemplo é Patricia Amorim, ex-presidente do Clube de regatas Flamengo, assumiu essa posição em 2010, mas não passou muito tempo no comando.
Por ser a única mulher presidente de um clube de futebol no estado do Ceará, Maria também passa por momentos complicados e cheios de preconceito e machismo.
“ É muito desafiador ser mulher e presidir um clube, principalmente quando tenho que me comunicar com outros clubes. A maioria dos homens não querem me ouvir, às vezes quando eles querem ganhar uma causa eles se juntam e deixam a gente lá, nós vamos ver né, mas nós não temos como sair de uma situação onde eles mandam ali naquela situação, então, às vezes a gente tem que dar uns gritos”, conta Maria.
Quando perguntada sobre o porque que o número de mulheres ainda é muito pequeno no futebol profissional masculino, a Presidente responde.
“Primeiramente as pessoas sempre aliaram futebol a diversão, bebida, mulheres seminuas, outra que mulher é objeto no futebol. Ou mulher objeto no futebol ou a mulher lésbica no futebol, então eles nunca respeitaram essa presença da mulher enquanto gestora, enquanto uma pessoa que determina, enquanto uma pessoa que tem que comandar uma equipe. Tudo enraizado lá no machismo... ...Eu me propus fazer futebol masculino e gosto muito do que eu faço, estudo muito sobre o que eu faço, mas eu tenho que tá muito ciente o tempo todo do que eu tô fazendo, eu sou uma mulher, então alí eu tô exposta a cantadas, assédios, a insultos, então não posso baixar minha guarda em momento nenhum, porque eu tenho outros clubes, eu tenho outras instituições que são envolvidas no futebol. Então você tem que separar muito bem você enquanto mulher, e você a mulher gestora. As pessoas têm que reconhecer como gestora, e não como objeto de desejo, de conquista. Estão falando de mim como Maria mulher, não é a mulher, mas que tem um certo poder (que na verdade eles estão equivocados, que eu não tenho poder nenhum) então isso me incomoda um pouco. Então acho que o que acaba sendo um determinante, que não tem tantas mulheres no futebol é porque nem sempre as mulheres estão dispostas a fazer essa desconstrução. E às vezes pra gente também não tem espaço!
Preconceito não fica apenas para árbitras e jogadoras não, presidente de clube também sofre com preconceitos.
“Outra vez terminou um jogo, desci do camarote e fui entrar no portão que dava acesso ao vestiário e o segurança me barrou. Eu falei: “moço trabalho nesse time”. Aí o outro falou assim: “Ah deve ter alguma namorada de jogador, deixa passar”. Quer dizer, a namorada do jogador pode passar, (inclusive não pode), mas assim uma funcionária do clube não pode e nem sabiam que eu era Presidente, mas sempre existem os preconceitos, ou os velados ou os explícitos. Já me mandaram calar a boca no estádio, onde nós fomos jogar no interior, e o cara mandou eu calar a boca. “Olha vc não está em Fortaleza”. Mas não era porque eu estava torcendo pelo time, era eu sou mulher. Eu não deixo passar, eu tenho uma causa embora que eu milite nessa casa sozinha, mas eu não deixo passar isso despercebido, porque são muitos preconceitos, até mesmo dentro da própria equipe que eu trabalho existe assim os preconceitos. Por isso que eu digo logo você quer trabalhar comigo? Quero! Suporta ser mandado por uma mulher?”, fala Maria Vieira.
E quando o assunto é reunião para decidir o campeonato cearense, vejam o que ela diz:
“É muito difícil uma ideia minha ser aceita, por exemplo todas as fórmulas do Campeonato Cearense, até hoje tenho quatro campeonatos, eu nunca votei a favor dessa fórmula e as pessoas mesmo sabendo que eu tenho razão não tem coragem de voltar comigo, porque é o que eles querem e é muito difícil”.
HOMENS SÃO MAIS FORTES, MAS MULHERES RESISTEM DORES MAIORES
Fisiologicamente sabemos que o corpo da mulher é bem diferente do corpo do homem. As mulheres têm menos massa muscular em seu corpo e mais gordura, já nos homens acontece o contrário, eles possuem menos gordura e mais massa muscular. Mas isso não impede que essas mulheres possam praticar o esporte que ela quiser.
Sônia Ficagna, professora de atletismo da Unifor, especialista em Fisiologia do Exercício e Mestre em Ciências Médicas, vai nos explicar melhor como essas diferenças acontecem.
“A diferença fisiológica entre os homens e as mulheres é muito grande, a diferença que existe elas são bem marcantes. De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, o que mais prevalece é a diferença entre massa muscular dos homens, porque os homens tem a massa muscular em termos relativo e absoluto bem maior do que a mulher, a mulher também apresenta em geral um percentual de gordura muito mais elevado que o homem o que vai dá uma menor eficiência termorregulatória quando os exercícios são realizados em ambientes mais quentes, como aqui no nordeste por exemplo, e apesar da gente ter uma semelhança entre as fibras musculares, em quantidade de fibras musculares entre homens e mulheres, o volume de cada fibra é maior nos homens, e as fibras vermelhas elas são utilizadas em atividades de baixa e moderada intensidade e longa duração e por isso o predomínio aeróbico acaba sendo também dos homens, o que traz também uma diferença aí, também para o sistema de transporte e absorção de oxigênio, os homens têm coração, pulmão e vasos maiores do que as mulheres e também possuem uma quantidade bem maior de mitocôndrias que são organelas que estão envolvidas no processo de transformação da energia dentro das células, então isso vai gerar uma diferença da potência aeróbica de em torno de 20 a 30% maior para o homem do que a mulher, essa são grandes diferenças que acontecem tanto na questão muscular, como também na questão do transporte, absorção e utilização do oxigênio em geral. Já em relação a massa muscular envolvida, como os homens têm uma massa muscular maior, consequentemente, eles conseguem ter uma potência maior nos exercícios, então o homem leva vantagem nas atividades de velocidade, leva vantagem em atividades de resistência, em atividades de força, com muito mais facilidade desenvolvendo essas atividades do que uma mulher. Fisiologicamente essas diferenças existem, são comprovadas cientificamente. Mas com o treinamento das mulheres, a gente vem aproximando essas capacidades. A mulher tem uma capacidade muito grande de se adaptar rapidamente e de resistir a maior dor, de resistir à maior sofrimento, o que consequentemente gera ganhos dentro do treinamento também”.
No atletismo, a primeira mulher que correu uma maratona, quebrou regras e quase foi expulsa da prova por um dos diretores. Isso aconteceu em 1967 na Maratona de Boston (EUA), naquela época apenas os homens podiam correr as provas de rua, mas Kathrine Switzer, fez história e enfrentou a organização da prova e conseguiu correr. Quando descobriram que havia uma mulher correndo, os fotógrafos começaram a gritar que tinha uma mulher na corrida e o diretor da competição tentou tirá-la da prova.

Foto: Arquivo (Google)
“Historicamente a mulher sofreu muito para conquistar os espaços e ainda os espaços são muito pequenos em comparação com os homens. Então hoje eu considero que o esporte em geral ainda é masculino, no Brasil e no Ceará, porque que eu considero que é masculino, porque ainda a grande maioria das pessoas que estão nos cargos de chefia, de diretoria esportivas, treinadores, são pouquíssimas as mulheres, a quantidade de homens para mulheres é em torno de 10 vezes mais, então o esporte tanto no Brasil como no Ceará, ainda é um esporte masculino”, conta Sônia.
O PRECONCEITO CONTRA A MULHER VINDO DE OUTRA MULHER
Que o machismo e o preconceito contra as mulheres vindo dos homens já existe há séculos todos nós já sabemos, mas muitas vezes, esse preconceito acaba vindo de outras mulheres.
Elas xingam as árbitras de futebol pelo alambrado, criticam jornalistas e comentaristas mulheres…
A jornalista esportiva Ana Claudia Andrade diz que já sentiu esse preconceito vindo por parte de outras mulheres.
“Por incrível que pareça, eu já senti preconceito por parte de outras mulheres. Eu não sei se é um preconceito, se é inveja, se é um comportamento natural da mulher de ser competitiva. De repente ela vê uma mulher chegar em um espaço, que não é ocupado por mulheres, e ela sente um pouco de inveja, porque ela gostaria de estar naquele lugar… Não sei, o fato é que eu já senti um pouco de preconceito pelas próprias mulheres… …Eu já vi mulheres na arquibancada me xingando, porque elas não aceitam quando a gente emite uma opinião a respeito do desempenho do time delas”.
Mesmo com esse preconceito vindo por parte das mulheres, Claudia nunca pensou em desistir da profissão. E hoje ela é uma excelente jornalista esportiva no estado do Ceará, deixando muitos marmanjos boquiabertos com seus comentários sempre assertivos!
Ana Claudia fala que no início amigos jornalistas a apoiaram bastante, pois viram seu interesse e seu conhecimento na área esportiva. E é isso que os homens devem fazer, apoiar suas colegas de trabalho, pois elas podem se tornar uma excelente aliada no trabalho diário.
A jornalista e escritora do livro "A verdadeira regra do impedimento”, Karine Nascimento, em sua primeira semana na rádio, os ouvintes que participavam do programa através de um aplicativo de mensagem, começaram a ofendê-la por ser mulher e estar comentando sobre esporte. "Quem é essa menina? O que ela está fazendo aí? Tira ela daí!", eram alguns dos comentários que a jornalista recebia.
Falta voz para as mulheres, o machismo e o preconceito vigente nas ruas, quando uma menina joga bola ou em um local de trabalho, quando uma mulher passa a comentar também sobre o esporte deve acabar.
Karine conta que, muitas vezes, teve que ver amigas serem mais duras para provar o seu valor. “É triste pensar que as mulheres que são vistas trabalhando no meio esportivo são taxadas de interesseiras, pensam que estamos interessadas em algum jogador, ou que estamos achando algum jogador bonito, ainda mais quando um comentarista fala de algum jogador específico. Precisam ralar muito para provarmos que somos boas profissionais".
Questionada sobre a pouca visibilidade da mulher no esporte, a escritora diz que a visibilidade é realmente baixa e que é necessário haver mudanças "Acaba partindo realmente para a questão da beleza. A maioria das jornalistas contratadas, seja apresentadoras e repórteres, vai ser de mulheres brancas ou loiras, não estou falando que elas não são competentes ou que não deveriam estar ali. Mas é o tal padrão. Mas nenhum erro pode ser cometido, pode ser na comunicação ou até mesmo dentro de campo, por exemplo em relação às árbitras ou as assistentes de futebol, pois eles serão vistos de formas maiores ou ainda mais graves do que em relação aos homens".
As mulheres não vieram para tomar o espaço do homem na sociedade, elas vieram para somar. Cada vez mais elas estão se capacitando para chegar onde elas querem com excelência e sem precisar daquele favorzinho masculino. Embora algumas mulheres reproduzam discursos e atitudes de cunho machista, elas não devem ser consideradas tais, pois nenhuma mulher se beneficia do machismo. Mesmo os ataques vindo de mulheres, o único que ganha com isso é o homem.
ATLETAS AMADORAS
No país do futebol, encontrar mulheres jogando bola nas ruas não é algo tão comum como se espera. A prática ainda é pouco valorizada e amplamente associada ao universo masculino. O cenário vem mudando ao longo do tempo, embora ainda sejam muitos os relatos de mulheres que contam que, para jogar futebol, sempre tiveram que estar entre homens.
Thamires Pereira tem 16 anos e estuda em uma escola pública na capital cearense onde realiza o sonho de jogar futebol, antes sofria com a falta da prática em sua antiga instituição de ensino."Na primeira escola que eu estudei não tinha tanto apoio para as meninas no futebol e depois que eu troquei de escola vi que as meninas eram mais inclusivas para chamar a gente pra jogar e acabou que o desejo de jogar futebol só foi aumentando", conta.
Mas a caminhada teve seus percalços. Por ter sido criada dentro de uma instituição religiosa, a prática esportiva não era vista com bons olhos: "Por ter crescido na igreja, todas as meninas que passavam ficava me olhando de cara feia, mas mesmo assim eu sempre joguei com o pessoal. Sempre passava alguém por mim e dizia que futebol é coisa de menino, que mulher não joga futebol, então sempre havia esse tipo de julgamento e acabou que não tive o apoio de quase ninguém", comenta.
Além de sofrer julgamentos devido a sua escolha, a estudante relata que até na escola acabou sofrendo assédio por parte de um professor. "Em interclasse da escola, por as meninas usarem short curto acaba que elas escutam coisas como ‘gostosa’. Já aconteceu até casos de treinadores chegarem e passarem a mão e querem ter algo a mais com as meninas por causa disso", relata.
Mas a jovem jogadora fala que já tem perspectivas para o seu futuro. "No futuro que está jogando como sempre. Quem sabe até tentar um time de base em algum time grande. Trabalhar muito nessa carreira de base para conseguir chegar um dia numa seleção brasileira", finaliza.
A IMPORTÂNCIA DE UM INCENTIVADOR NO FUTEBOL FEMININO
Em um meio no qual o homem é o maior número de praticante, fica mais do que comum ter professores de futebol no sexo masculino. Devido a alta demanda no esporte, o público feminino acaba sendo minoria, e por muitas vezes, excluída. Não só dentro de campo, com jogadores e árbitros, e sim também, fora de campo. Na administração, coordenação, comissão técnica, direção e presidência. Ao invés de trabalhar com a maioria do comum, tem pessoas e profissionais que se arriscam no “diferente”, no “impossível”, no que “nunca vai dar certo”, principalmente quando se fala no futebol feminino. Chagas Ferreira, que foi durante muito tempo presidente e às vezes técnico da associação Menina Olímpica - que inclusive foi um dos grandes pilares para ter grandes atletas no futebol feminino atualmente - é uma grande referência quando se fala em futebol feminino.

Foto: Jorge Alves/Agência Diário
A associação Menina Olímpica foi criada em Fortaleza no ano de 2006 com o objetivo de ser uma grande ferramenta de inclusão social para a mulher, tanto na sociedade e principalmente no futebol, fazendo com que fosse uma incentivadora na prática esportiva e contribuir na prática cidadã.
“São meninas que, de repente, despontam ou não, mas despontar não é só também para o futebol. Elas despontam como boas alunas, têm uma profissão, vão para outras áreas”, explica Chagas.

Foto: Crisneive Silveira
Chagas foi extremamente vitorioso no projeto menina olímpica, não só em relação a títulos, mas também em fazer um belo trabalho social de inclusão e engajamento para diversas meninas que queriam ingressar nesse meio tão masculino. Apesar de ser do sexo masculino, Chagas sempre foi bem visto pela as meninas do projeto como um grande incentivador, inclsuive chamando várias mulheres para fazerem parte do projeto , na parte da administração, comissão, organização, e até mesmo na parte da presidência. Hoje, o projeto ainda continua em atividade, assim como Chagas, mas os dois estão em “caminhos diferentes”. Antes de deixar o projeto, o ex-presidente da associação sempre frisava que a mulher pode sim ter um grande espaço no futebol.
“Não está escrito em nenhum documento oficial que o futebol é um esporte masculino. Mas, graças a uma sociedade machista, preconceituosa, o futebol seguiu para esse rumo. Porém, a mulher pode estar e/ou ser o que ela quiser e jogar futebol é um direto de qualquer um (a)”, defende Chagas.
Atualmente, Chagas está há mais de 15 anos no futebol feminino, mas já passou pelos dois maiores clubes do Estado do Ceará comandando o futebol feminino. Em 2018, Chagas estava na coordenação do time do Ceará, que disputou o Campeonato Brasileiro Feminino A2, chegando até às quartas-de-fina, sendo eliminado pelo Cruzeiro. Em 2 anos no comando da coordenação técnica do Ceará, Chagas tinha 6 integrantes do sexto masculino em sua comissão, além de ter 29 mulheres em toda a folha do time feminino do Ceará. Vale ressaltar também que, o time alvinegro só tem atualmente um time feminino disputando a Série A2, devido a acessão do clube à série A do Campeonato Brasileiro, que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) exige que cada time tenha incentivos também no futebol feminino.
“A chegada do futebol feminino nos “clubes de camisa” se deu por imposição imposta pela FIFA, CONMEBOL e a CBF. Os clubes quanto participantes da Série A do futebol BRasileiro, são obrigados a manterem o futebol feminino. Foi assim no Ceará SC e também no Fortaleza EC. Em junho de 2018 a Associação Menina Olímpica - AMO fez um contrato de cooperação com o Ceará SC para implantação da modalidade no clube, parceria que durou até Dezembro de 2019”.
“Ganhamos Campeonatos Cearenses de futebol nos anos de 2018 e 2019 (adulto) e o sub-20 de 2019 chegamos na 6º colocação do Brasileiro feminino A2. Tínhamos apenas 6 mulheres na comissão técnica e diretoria. Não foi o ideal, mas deu para começar um grande trabalho”.

Com o belo trabalho no Menina Olímpica e também no clube do Ceará, Chagas acabou sendo visado por outros projetos e consequentemente por outros times. Assim como é muito comum entre jogadores, comissão técnica e profissionais de fisiologia, fisioterapia e etc, o Fortaleza, que conseguiu no ano seguinte a sua ascensão à série A do Campeonato Brasileiro, foi atrás de um profissional que já tinha experiência inicial na construção de um projeto, e que tivesse muitos contatos dentro do futebol feminino...Então, o Fortaleza Esporte Clube o convidou para começar a montagem de mais um time feminino no estado do Ceará.
O Fortaleza não tinha parceria com o Menina Olímpica, foi um contrato de março a dezembro de 2020. O Clube cumpriu com o combinado, não tenho queixa. Mas, o investimento foi muito pouco e apesar do pequeno investimento nós chegamos á sétima colocação no Brasileirão da série A2 e deixamos uma base montada, tínhamos seis mulheres na comissão técnica e diretoria com: Fátima Barista, Mariana Albino, Raquel Ferreira, Daniela Sá, Rochelia e Dora.

Com a boa colocação que o Ceará obteve nos anos de 2018 e 2019, consequentemente a boa atuação do Fortaleza em seu primeiro ano de estreia no futebol feminino A2, a modalidade passou a ser tornar mais midiática. Isso porque, com as plataformas de streams que temos atualmente, como MyCujoo, Dazan e LiveMode, a exposição do futebol feminino está tendo muito mais possibilidades. Com esse produto midiático, os clubes (Ceará e Fortaleza) devem explorar esse segmento, apesar de ainda não ter ou enxergar ainda, é um novo produto que tá surgindo e que deve/vai ser explorado. Os dois clubes do estado são grandes em torcida e devem investir nesse novo mercado que tem consumidores e promessas no esporte. Apesar de ter bons indícios de investimento, patrocinadores e de consumo, o preconceito ainda existe. Tanto existe, que já deveria ter um investimento inicial antes mesmo de ter bons resultados, e não somente por tá apresentando bons números e promessas. Com tantas vivências e histórias no futebol feminino, Chagas infelizmente já presenciou diversas cenas de preconceito contra a mulher no futebol.
“Muitas cenas desagradáveis, mas a sociedade tem evoluído e o preconceito tem sido derrubado e as meninas estão conseguindo galgar degraus no esporte e na sociedade, o esporte é um instrumento de inserção social que quando vem utilizado dá retorno”.
Hoje, Chagas apesar de ter presenciado diversas cenas desagradáveis, nunca desistiu de incentivar e continuar acreditando mais e mais na evolução do futebol feminino. Sendo presidente da Associação Menina Olímpica - AMO, a equipe e diretoria estão executando o projeto com parceria com as escolas de aprendizes do Marinheiro do Ceará - EAMCE. Além disso, o projeto também busca uma grande parceira com uma grande empresa de internet para criar um time competitivo para as competições seguintes que estão por vir.
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